sexta-feira, 20 de abril de 2012

Disputa por um pedaço de Goiás Em gravações obtidas por ÉPOCA, Cachoeira reclama de concorrentes na política goiana e discute a casa que pertencera ao governador Marconi Perillo

SUSPEITA DE PROXIMIDADE O governador de Goiás, Marconi Perillo (acima), e Andressa Mendonça (à esq.), mulher de Carlinhos Cachoeira. Ela ficou chateada porque o marido preferiu colocar um imóvel no nome de um laranja do que registrar no nome dela (Foto: Andre Dusek/AE e Carlos Costa/AE)

As investigações da Operação Monte Carlo mostram que a organização comandada pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira tinha lá seus dias de dificuldade. Escutas telefônicas obtidas por ÉPOCA mostram que Cachoeira se preocupava com seu latifúndio. Em abril de 2011, ele se mostrava atento à ascensão de potenciais concorrentes na proximidade com o governador de Goiás, Marconi Perillo. Cachoeira fala numa sociedade entre Perillo e dois empresários para a compra de um avião de pequeno porte. O bicheiro avalia a aeronave em R$ 4 milhões.

A informação surge numa conversa entre Cachoeira e Wladmir Garcez. Ex-vereador pelo PSDB goiano, Garcez é apontado pela polícia como assessor de Cachoeira e responsável por contatos entre o bicheiro e Perillo. Às 22h30 de 18 de abril do ano passado, Cachoeira diz a Garcez que está “levando bola nas costas em tudo”. Na gravação, ele se mostra incomodado com um empresário chamado Wélber. “Wélber, aquele cara de Brasília, ele é sócio do Marconi no avião aí com o Rossine (...). Pagou R$ 4 milhões, um trem assim. O Marconi tem 50%, o Rossine tem 25%, e esse Wélber tem 25”, afirma Cachoeira. “Aquele dia, ele (a PF não identifica quem seria “ele”) falou que era amigo dele, você lembra?”, diz Garcez. Cachoeira afirma: “Tô te falando uai, esse trem aí... Nós tamo levando bola nas costas de todo mundo”. Cachoeira não admitia sombras em seus negócios.

O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), afirmou, por meio de nota: “Nunca participei de nenhuma sociedade com as pessoas citadas e jamais adquiri qualquer tipo de aeronave”. Perillo diz ainda que o governo de Goiás tem a quantidade de aeronaves suficiente para atender às necessidades do governador. Perillo afirma também que não conhece o empresário Wélber, tampouco Rossine, ambos mencionados por Cachoeira como seus sócios na transação.

Rossine Aires Guimarães é um empresário com origem em Catalão, Goiás, com negócios também em Tocantins e Mato Grosso. Em 2010, ele doou R$ 800 mil ao PSDB de Goiás durante a campanha que elegeu Perillo. Rossine é apontado pela PF como sócio de Cachoeira na Ideal Segurança. Os outros sócios são Cláudio Abreu, o diretor demitido da Delta Construções no Centro-Oeste, e o delegado federal Deuselino Valadares, suspeito de fazer parte da quadrilha. Além de parceiro de Cachoeira, Rossine é sócio da Vale do Rio Lontra, empresa que manteve contrato com a Agência Goiana de Transportes e Obras. O acerto foi rescindido no ano passado pelo governo de Goiás. ÉPOCA não conseguiu falar com Rossine.

Cachoeira mostra-se incomodado com um empresário em Goiás, que diz ser sócio de Perillo em aeronave 
Rossine é mencionado em outro diálogo capaz de constranger Perillo, sobre uma transação imobiliária com a casa do governador num condomínio de luxo em Goiânia. Em 9 de abril de 2011, Cachoeira recebeu a ligação de um empresário interessado na compra da casa que pertencera a Perillo. Segundo as gravações, Cachoeira desconversa. Em seguida, telefona para Cláudio Abreu e lhe dá uma bronca. “(Para) de falar para os outros que eu tenho casa para vender em Alphaville do Marconi, rapaz!”, diz Cachoeira.
 Abreu joga a responsabilidade para Rossine. “Que eu falei, rapaz? É o Rossine que falou lá. Tá doido?”, afirma Cláudio. “Não pode falar de jeito nenhum que eu tenho casa para vender. Tem que dizer que o Rossine pegou isso atravessado.” Cachoeira telefonou para o interessado no negócio e encerrou o episódio. Alguns dias depois, em diálogo com sua mulher, Andressa Mendonça, Cachoeira diz ter de rasgar “urgente” o contrato de compra e venda de uma casa e registrá-la em nome de um laranja. Andressa não gostou. Na gravação, ela exige que a escritura seja feita no nome dela. Segundo os investigadores, é a mesma casa que pertenceu a Perillo até ele assumir o governo de Goiás.

Entenda as denúncias envolvendo Carlinhos Cachoeira e políticos

A história do imóvel revela coincidências, generosidades e desencontros que só acontecem entre políticos. Perillo afirma que imaginava ter vendido a casa para Garcez. Diz que só descobriu que a casa estava registrada em nome do empresário Walter Paulo Santiago quando a escritura foi passada em cartório. O empresário Santiago afirma ter emprestado a casa – de graça – para Garcez e não saber quem morava no local. Por que Cachoeira queria esconder seu vínculo com a casa, mesmo morando lá havia três meses? E como venderia uma casa da qual nem era proprietário? Perillo diz que nunca soube da participação de Cachoeira nessa transação imobiliária. Afirma ter encontrado o bicheiro em poucas ocasiões. Cachoeira, no entanto, sempre esteve por perto. Foi exatamente na porta dessa mesma casa que a PF bateu, na manhã de 29 de fevereiro deste ano, para prendê-lo.

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